A palavra de Deus nos pede: "Sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas" (Mt 10, 16). Vicente de Paulo comentava: "Nosso Senhor Jesus Cristo nos pede a simplicidade da pomba que consiste em dizer as coisas naturalmente como estão em nosso coração, sem cogitações inúteis, e fazendo tudo com a atenção voltada para Deus, sem engano nem artifício. Por isso, esforçar-nos-emos para fazer tudo em espírito de simplicidade, sabendo que Deus gosta de falar com os simples e que oculta os mistérios celestes aos sábios e aos prudentes do mundo, enquanto os revela aos humildes. Mas Cristo, ainda que nos recomende a simplicidade da pomba, manda-nos também ter a prudência da serpente. Esta virtude nos leva a falar e agir com discrição. Por ela, calaremos o que não é conveniente que falemos, sobretudo se se trata de algo que por si é mal ou ilícito. Esta virtude nos ajuda no momento de agir e de escolher os meios adequados para se conseguir o fim, Para nós será sempre uma coisa sagrada o usar meios divinos para as coisas de Deus, e sentir em cada segundo o sentir e o pensar de Cristo e nunca o sentir do mundo, nem os frágeis raciocínios de nossa inteligência. Assim seremos prudentes como as serpentes e simples como as pombas". Simplicidade. Esta é a virtude que Vicente de Paulo mais amava. Dizia ele, "É o meu evangelho"
Ter simplicidade é o contrário de fazer as coisas com espírito de soberba, de querer mostrar-se grande, de ser aquilo que realmente não é. Para Vicente de Paulo, a simplicidade consiste, antes de tudo, em dizer a verdade, dizer as coisas como elas realmente são, sem dissimular nem ocultar nada. Os lábios devem dizer aquilo que se passa no coração. É pensar, falar e agir sem duplicidade. "Pelo que se refere a mim, não sei, mas parece-me que Deus me deu um gosto tão grande pela simplicidade, que eu a chamo meu evangelho. Sinto uma devoção especial e consolo ao dizer as coisas como são" (SPV_ Coste, IX, 546). Simplicidade exige pureza de intenção, fazer tudo por amor de Deus e por nenhum outro motivo.
Não é nada saudável levar uma vida complicada. Todos gostam de pessoas simples. Há grande descontentamento quando se depara com situações onde as pessoas agem com duplicidade. "A duplicidade não agrada a Deus", comentava São Vicente de Paulo. "É entre os simples que se conserva a verdadeira religião". Simplicidade é um estilo de vida. Implica ter uma vida sem supérfluos, sem coisas inúteis. É mostrar-se como realmente é.
Frederico Ozanam conhecia bem Vicente de Paulo. Também ele quis imprimir essa virtude no coração de todas as pessoas que se propunham a seguir Jesus Cristo servidor e evangelizador dos Pobres. Recomendava que as pessoas escolhiam participar das Conferências Vicentinas pudessem ter
em seus corações essa virtude da simplicidade. Dizia: "Deus se compraz em abençoar o que é pequeno e imperceptível; urge evitar o farisaísmo, a estima exclusiva de si mesmo, o peso demasiado de exigências e de práticas, a filantropia verborosa; isso seria o esquecimento da humildade e da simplicidade que presidiu as nossas primeiras reuniões, a alteração do nosso espírito primitivo".
A Regra da Sociedade de São Vicente de Paulo refere-se à simplicidade pelo menos duas vezes de sua importância. A primeira fala que as reuniões das Conferências devem ser realizadas dentro de um espírito de simplicidade: "As reuniões devem ser impregnadas de espiritualidade, fraternidade, simplicidade e alegria cristã, não devendo ser muito longas, que cansem os presentes, nem tão breves que prejudiquem o exame adequado das questões apresentadas". A segunda referência se trata das visitas feitas nas casas dos Pobres. Devem ser realizadas na simplicidade: "Sua sistemática de operação é simples: reuniões semana, com visitas às famílias assistidas, acompanhada de disponibilidade, humildade, simplicidade, zelo, afeto e espiritualidade". (Regra, pag. 243). Deus é simples. Quem caminha com simplicidade caminha seguro; caminha com Deus.